Papel dos oligossacarídeos do leite humano na formação da microbiota intestinal infantil

Autores

  • João Vitor Baldissera
  • Chaline Caren Coghetto
  • Carolina Boëttge Rosa

Resumo

Os oligossacarídeos do leite humano (OLM) fazem parte dos ingredientes funcionais do leite materno e, apesar de terem pouco valor nutricional, exercem importantes efeitos prebióticos e imunomoduladores no intestino infantil. O objetivo deste trabalho foi analisar o papel dos OLM na formação da microbiota intestinal no primeiro ano de vida. Para isso, foram selecionados artigos originais pesquisados no Medline/Pubmed, através dos termos indexados sobre o tema. Entre os trabalhos analisados, um estudo comparou a microbiota intestinal de bebês recém-nascidos até o seu primeiro ano de vida, separando-os em três grupos: (1) amamentados exclusivamente até os 4 meses (LM); (2) alimentados com fórmula infantil padrão até os 6 meses (controle); (3) alimentados com fórmula infantil contendo OLM até os 6 meses (teste). Por meio do sequenciamento de genes 16S rRNA pode-se observar que, aos 3 meses de idade, o grupo LM teve maior abundância de Bifidobacterium, seguido do grupo teste e por último o grupo controle. Subdividindo os grupos entre parto normal e cesárea notou-se uma prevalência maior de Bifidobacterium no grupo LM, independente da forma do parto. Aos 12 meses de vida, foi realizada outra coleta de amostras que não mostraram diferenças relevantes de microbiota entre os grupos, o que se observa é que o grupo teste foi menos propenso a receber qualquer tratamento com uso de antibióticos em relação ao grupo controle, que apesar de apresentar as Bifidobacterium, era em menor variedade de espécies e maior presença de outros microrganismos como a Escherichia, responsável por causar infecções e diarreias. Outro estudo demonstrou que a concentração de OLM em geral reduz ao longo da amamentação, mas a quantidade varia de acordo com o tipo de OLM, o comensalismo entre Bifidobacterium e OLM é um dos principais fatores que influenciam a microbiota intestinal e o desenvolvimento de imunidade em bebês. Observou-se também que o efeito anti-adesivo dos OLM é responsável por reduzir a contaminação de diversos agentes patológicos, incluindo o Streptococcus pneumoniae nessa faixa etária. Além disso, os OLM possuem a capacidade de modular a expressão gênica nas células do intestino, reduzindo a incidência de doenças inflamatórias em bebês. O desenvolvimento do sistema imune também está potencialmente relacionado com o equilíbrio entre a resposta Th1/Th2, e um estudo relatou que o uso de fórmulas infantis contendo OLM reduz o nível de citocinas inflamatórias a níveis similares ao uso do leite materno. Sendo assim, os trabalhos analisados demonstram que os OLM constituem um componente importante da proteção imunológica conferida pelo leite materno a bebês, através da formação da microbiota intestinal, e que o fornecimento suplementar de OLM em fórmulas infantis é uma alternativa relevante para recém-nascidos que não podem ser amamentados.

Palavras-chave: Microbiota Intestinal; Bifidobacterium; Oligossacarídeos.

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Publicado

2022-12-30