Avaliação de trauma na infância em dependentes químicos de uma comunidade terapêutica
Resumo
A OMS (Organização Mundial de Saúde) caracteriza como maus-tratos infantis os abusos físicos ou emocionais, abuso sexual, abandono e negligência. O efeito de experiências traumáticas no início da vida acarreta uma maior probabilidade de desenvolvimento de problemas de saúde a longo prazo, como transtornos mentais, e maior chance de se engajar em comportamentos de risco, como o uso de drogas. A literatura tem evidenciado que eventos traumáticos, atuam como fatores de risco para o uso precoce e desenvolvimento de dependência de substâncias psicoativas pois afetam a maturação de sistemas encefálicos envolvidos com a resposta ao estresse e o sistema de recompensa. Portanto, o objetivo do presente estudo é avaliar a prevalência de abuso e negligência ocorridas na infância e adolescência em dependentes químicos. Materiais e Métodos: Consiste de um estudo transversal com indivíduos dependentes químicos do sexo masculino (n=22), internados em uma comunidade terapêutica de Gravataí. Foi realizado um questionário sobre Trauma na Infância (QUESI) para avaliação de diferentes níveis de eventos possivelmente traumáticos sofridos na infância, bem como a aplicação de um questionário sociodemográfico. O instrumento Quesi é autoaplicável e gradua a frequência de 28 assertivas relacionadas com situações de abuso, investigando cinco componentes traumáticos: abuso físico, abuso emocional, abuso sexual, negligência física e negligência emocional em quatro níveis (nenhum, baixo, moderado e severo). Resultados e conclusão: Foram avaliados até o momento 22 homens na segunda fase da internação, após o período de desintoxicação. A média de idade foi 38,9 ± 10,50 anos. A prevalência de abuso emocional severo foi relatada em 27,3% (n=6) dos casos, abuso físico severo em 18,2% (n=4) e abuso sexual severo em 13,6% (n=3). Enquanto que, negligência física foi observada em 22,7% (n=5) e negligência emocional em menor proporção, em 9,1% (n=2) dos casos. Além disso, tentativa de suicídio foi relatada em 22,7% (n=5). A maior parte dos sujeitos, 77,3% (n=17), relatou a presença de mais algum membro da família com histórico de dependência química. Foi observado também que a condição socioeconômica esteve associada com os escores de trauma na infância. O número de cômodos na casa teve uma relação negativa com o escore de abuso físico (r=-0,516; p=0,014), abuso sexual (r=-0,451; p=0,035) e negligência emocional (r=-0,425; p=0,049). Os dependentes químicos cuja renda familiar era acima de dois salários mínimos apresentaram menores escores de abuso sexual (Qui-quadrado, p=0,019). Os resultados parciais do presente estudo mostraram a prevalência de abuso físico ou emocional severo em mais de 13% dos casos. Um contexto socioeconômico, que geralmente está associado a questões como desemprego, ou jornada dupla de trabalho, desesperança, pode influenciar no comportamento familiar, na atenção parental, e consequentemente pode refletir na qualidade das relações interfamiliares. A baixa qualidade das relações interfamiliares em períodos sensíveis do desenvolvimento podem influenciar a maturação final de alguns circuitos encefálicos e aumentar a propensão a transtornos aditivos. O estudo continua em andamento para aumento do número de sujeitos e prosseguimento das análises dos dados.
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